“Tubos” no Alentejo, é uma composição sonora criada no contexto da residência artística de Sonoscultura (2024) promovida pelas Oficinas do Convento, em Montemor-o-Novo, e dirigida por Ricardo Jacinto da OSSO.
Esta residência contou com a participação dos seis artistas seleccionados no concurso anual de Bolsas e Residências: Mariana P Coelho, Margarida Albino, Claire Nichols, Madalena Matoso, Rocio Calvo, Paulo Morais.
"Deambulando por Montemor-o-Novo, onde existe nas ruas um silêncio maior e onde o tempo parece passar agradavelmente devagar, após uma série de sessões de escuta, desenhos e anotações, começámos então a gravar os sons que escutávamos.
Nessa manhã, de auscultadores nos ouvidos e gravador em punho, o silêncio impunha-se. No entanto, um ruído contínuo e enervante insistia em aparecer. Segui-o. Vinha do interior das paredes. Fui-me aproximando do som que foi ocupando todo o espectro sonoro que eu conseguia alcançar. Electricidade, descobri! O som vinha da estrutura dos cabos elétricos, e atingia o seu auge junto ao outdoor de publicidade digital.
Tentava ignorar, mas este era o som que se impunha e me impedia de escutar o ambiente calmo da cidade.
Afastei-me o suficiente para me ver livre dele. Longe, escutei os diferentes pássaros a ecoar na paisagem, ovelhas ao fundo, cães, insetos. À minha frente, um cata-vento feito de lata cujo som se transforma nas cordas de uma guitarra que acompanha a festa medieval no castelo, lá no cimo.
Água. Imprevisivelmente as gotas de chuva abundaram naqueles dias de Verão, altura de tempo seco no Alentejo. A água que corre através de uma torneira torna-se um som continuo e junta-se ao som dos cabos da electricidade. Circulam juntos pela cidade.
Os pássaros interrompem. Os chocalhos das ovelhas também. Silêncio. Cigarras. Os Galos. O vento.
Uma porta que range. Sons metálicos. Cordas metálicas de instrumentos musicais abandonados.
Sons que circulam em tubos. Os tambores da festa medieval ao longe.
O piano antigo, guardado nas oficinas."









Nesta composição sonora, "Tubos", retirei do interior dos cabos de electricidade os sons que se impunham. Em vez de ignorá-los, assumi-os como parte de uma paisagem silenciosa onde até a electricidade conseguimos escutar.
Tentei organizar os sons que encontrei neste lugar, conjugando-os, criando ritmos, dinâmicas e harmonias, com a intenção de apaziguar, de um modo quase musical, as relações entre a herança de uma tradição cultural e vivências ligada ao campo, e o surgimento da modernidade e das novas tecnologias.
No Alentejo, em Montemor-o-Novo, um lugar onde a partilha das tradições culturais antigas e a procura de soluções contemporâneas, se cruzam.
Em cima, uma versão stereo de "Tubes", a composição que foi desenvolvida para ser difundida num sistema multicanal através de objectos-esculturas ressonantes encontrados nas Oficinas do Convento, e apresentada na exposição colectiva "Sonoscultura" na Galeria Municipal de Montemor-o-Novo em 2024.
(ver > Projects > Sonoscultura)